MANIFESTO DO 1º FÓRUM NACIONAL DE HIP HOP
MEMÓRIA:
MANIFESTO DO 1º FÓRUM NACIONAL DE HIP HOP
Salve Sangue Bom!
Nós, militantes do movimento hip hop, oriundos de vários estados diferentes do Brasil, como o Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Acre, Pará, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Santa Catarina e Rondônia, reunidos nos dias 27 e 28 de janeiro de 2003 no 1º Fórum Nacional de Hip Hop, em Porto Alegre, com o objetivo de aprofundar nossa organização e expressar nossas posições políticas para o Brasil e o mundo, garantindo uma ação unificada a nível nacional, vimos por meio deste manifesto “bolar uma letra” com o movimento e à população brasileira em geral.
A “parada” é o seguinte:
O movimento hip hop, através dos “manos” e das “manas”, e de seus elementos, ganhou espaço e se credenciou perante a periferia, a juventude negra e favelada, e a sociedade como um todo, desde meados da década de 80. Vivemos um momento de amadurecimento político, onde o Fórum Nacional de Hip Hop expressa a unidade de um setor do movimento hip hop que realmente atua enquanto militante, sem ter sido seduzido pelo mercado com a abertura de espaço na mídia ou os lucros milionários através da vendagem de cd´s. Não nos desvinculamos de nossos princípios ideológicos e portanto, esperamos que o Fórum Nacional de Hip Hop seja um espaço de discussão e troca de experiências que nos unifique em torno de uma luta comum: a luta por um outro mundo possível. Vemos no hip hop, através da sua música (rap), de sua dança (break) e sua arte visual (grafitti), muito mais do que um mero entretenimento: o movimento hip hop é uma forma de resistência, um meio através do qual travaremos nossa luta política, apesar de usarmos uma linguagem diferenciada da usada pelos sindicatos, dce´s, etc.
Neste sentido, algumas “correrias” são prioridade para o próximo período, para que o movimento hip hop mantenha sua autonomia, sendo portanto um movimento de caráter e concepção suprapartidária, realmente aglutinando todas as forças políticas que defendem uma transformação da sociedade e a superação do capitalismo através de um movimento plural e amplo; um movimento independente, que se mantenha por si próprio, através de sua própria luta e que seja capaz de formular sua própria política; e, finalmente, um movimento revolucionário, que venha a utilizar a arte como um elemento transformador da realidade, através dos/as dj´s e mc´s, dos b. boys e das b. girls e de grafiteiros e grafiteiras.
O caminho para as transformações que defendemos deve ser traçado pela discussão política e pela nossa prática cotidiana nas “quebradas” onde militamos. Por isso, é urgente a organização dos Fóruns Estaduais de Hip Hop, como base para a construção de nossa rede nacional através do Fórum Nacional de Hip Hop, levantando nossas bandeiras prioritárias, definidas como consensuais entre nós, como os seguintes princípios e campanhas: pela campanha “Fora Base de Alcântara”; contra o imperialismo norte-americano e sua intervenção na Amazônia, o Plano Colômbia e a guerra no Iraque; a luta pelo direito a diversidade, contra a discriminação em relação à orientação sexual (assunto no qual raramente tocamos...); a luta contra o machismo, inclusive discutindo a sua reprodução dentro do movimento hip hop no dia-a-dia e nas letras de rap, incentivando assim uma maior participação feminina nas lutas do movimento e reconhecendo e corrigindo nossos equívocos; a luta contra o racismo e pela igualdade; a luta contra o trabalho infantil e a opressão das crianças; e a luta em solidariedade ao povo palestino, ao continente africano e a aos zapatistas;
Entendemos que as eleições presidenciais de 2002 são um marco na história recente do Brasil, pois elegemos um presidente com nítida história e identificação com a classe trabalhadora. O governo Lula canaliza um sentimento de mudança e se legitima diante da crise do modelo neoliberal instaurado no país. Nesse sentido, apontamos algumas reivindicações que são fundamentais para que esta mudança tão esperada se concretize de fato, como: o não pagamento da dívida externa e a ruptura com o Banco Mundial, o FMI e a Alca, esta última através da realização de um plebiscito oficial para que a população brasileira possa democraticamente se posicionar a respeito, além da realização efetiva da reforma agrária.
Outro aspecto que consideramos central como bandeira de luta do movimento hip hop, a ser trabalhado desde já, é a luta pela democratização dos meios de comunicação, que apresentamos como uma reivindicação ao governo Lula, mas que também queremos construir, enquanto movimento social, através da discussão da auto-gestão, criando uma rede de economia solidária que nos garanta a valorização do que “é nosso” e portanto tem que ter a “nossa cara”, a nossa independência financeira, e a inversão de valores que aponte para uma alternativa concreta à lógica capitalista na qual os meios de comunicação inseridos.
Desde já, estamos nos engajando, enquanto militantes do movimento hip hop, ao lado de outros seguimentos como o movimento negro, na luta pelo 20 de novembro enquanto um feriado nacional, pelo reconhecimento e inclusão na “história oficial” da luta de Zumbi dos Palmares contra a escravidão e pela liberdade. Encaminhamos também uma moção de apoio a criação da “Secretaria de Estado para a Promoção da Igualdade Racial” pelo governo federal, pois estamos convencidos que o Brasil precisa de um órgão de governo específico que promova políticas públicas de combate ao racismo.
É com o propósito de “trocarmos nossas idéias” e convencermos o conjunto do movimento hip hop a se engajar conosco nesta árdua tarefa que estamos nos dirigindo a “manos” e “manas” neste momento. Fica aqui exposta a base sobre a qual construiremos em cada cidade e em cada estado o próximo Fórum Nacional de Hip Hop, em Goiânia, em junho de 2003, aprofundando nossa organização nacional.
E “é nóis na fita!”
Porto Alegre, 27 e 28 de janeiro de 2003
III Fórum Social Mundial
III Acampamento Intercontinental de Juventude
MANIFESTO DO 1º FÓRUM NACIONAL DE HIP HOP
Salve Sangue Bom!
Nós, militantes do movimento hip hop, oriundos de vários estados diferentes do Brasil, como o Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Acre, Pará, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Santa Catarina e Rondônia, reunidos nos dias 27 e 28 de janeiro de 2003 no 1º Fórum Nacional de Hip Hop, em Porto Alegre, com o objetivo de aprofundar nossa organização e expressar nossas posições políticas para o Brasil e o mundo, garantindo uma ação unificada a nível nacional, vimos por meio deste manifesto “bolar uma letra” com o movimento e à população brasileira em geral.
A “parada” é o seguinte:
O movimento hip hop, através dos “manos” e das “manas”, e de seus elementos, ganhou espaço e se credenciou perante a periferia, a juventude negra e favelada, e a sociedade como um todo, desde meados da década de 80. Vivemos um momento de amadurecimento político, onde o Fórum Nacional de Hip Hop expressa a unidade de um setor do movimento hip hop que realmente atua enquanto militante, sem ter sido seduzido pelo mercado com a abertura de espaço na mídia ou os lucros milionários através da vendagem de cd´s. Não nos desvinculamos de nossos princípios ideológicos e portanto, esperamos que o Fórum Nacional de Hip Hop seja um espaço de discussão e troca de experiências que nos unifique em torno de uma luta comum: a luta por um outro mundo possível. Vemos no hip hop, através da sua música (rap), de sua dança (break) e sua arte visual (grafitti), muito mais do que um mero entretenimento: o movimento hip hop é uma forma de resistência, um meio através do qual travaremos nossa luta política, apesar de usarmos uma linguagem diferenciada da usada pelos sindicatos, dce´s, etc.
Neste sentido, algumas “correrias” são prioridade para o próximo período, para que o movimento hip hop mantenha sua autonomia, sendo portanto um movimento de caráter e concepção suprapartidária, realmente aglutinando todas as forças políticas que defendem uma transformação da sociedade e a superação do capitalismo através de um movimento plural e amplo; um movimento independente, que se mantenha por si próprio, através de sua própria luta e que seja capaz de formular sua própria política; e, finalmente, um movimento revolucionário, que venha a utilizar a arte como um elemento transformador da realidade, através dos/as dj´s e mc´s, dos b. boys e das b. girls e de grafiteiros e grafiteiras.
O caminho para as transformações que defendemos deve ser traçado pela discussão política e pela nossa prática cotidiana nas “quebradas” onde militamos. Por isso, é urgente a organização dos Fóruns Estaduais de Hip Hop, como base para a construção de nossa rede nacional através do Fórum Nacional de Hip Hop, levantando nossas bandeiras prioritárias, definidas como consensuais entre nós, como os seguintes princípios e campanhas: pela campanha “Fora Base de Alcântara”; contra o imperialismo norte-americano e sua intervenção na Amazônia, o Plano Colômbia e a guerra no Iraque; a luta pelo direito a diversidade, contra a discriminação em relação à orientação sexual (assunto no qual raramente tocamos...); a luta contra o machismo, inclusive discutindo a sua reprodução dentro do movimento hip hop no dia-a-dia e nas letras de rap, incentivando assim uma maior participação feminina nas lutas do movimento e reconhecendo e corrigindo nossos equívocos; a luta contra o racismo e pela igualdade; a luta contra o trabalho infantil e a opressão das crianças; e a luta em solidariedade ao povo palestino, ao continente africano e a aos zapatistas;
Entendemos que as eleições presidenciais de 2002 são um marco na história recente do Brasil, pois elegemos um presidente com nítida história e identificação com a classe trabalhadora. O governo Lula canaliza um sentimento de mudança e se legitima diante da crise do modelo neoliberal instaurado no país. Nesse sentido, apontamos algumas reivindicações que são fundamentais para que esta mudança tão esperada se concretize de fato, como: o não pagamento da dívida externa e a ruptura com o Banco Mundial, o FMI e a Alca, esta última através da realização de um plebiscito oficial para que a população brasileira possa democraticamente se posicionar a respeito, além da realização efetiva da reforma agrária.
Outro aspecto que consideramos central como bandeira de luta do movimento hip hop, a ser trabalhado desde já, é a luta pela democratização dos meios de comunicação, que apresentamos como uma reivindicação ao governo Lula, mas que também queremos construir, enquanto movimento social, através da discussão da auto-gestão, criando uma rede de economia solidária que nos garanta a valorização do que “é nosso” e portanto tem que ter a “nossa cara”, a nossa independência financeira, e a inversão de valores que aponte para uma alternativa concreta à lógica capitalista na qual os meios de comunicação inseridos.
Desde já, estamos nos engajando, enquanto militantes do movimento hip hop, ao lado de outros seguimentos como o movimento negro, na luta pelo 20 de novembro enquanto um feriado nacional, pelo reconhecimento e inclusão na “história oficial” da luta de Zumbi dos Palmares contra a escravidão e pela liberdade. Encaminhamos também uma moção de apoio a criação da “Secretaria de Estado para a Promoção da Igualdade Racial” pelo governo federal, pois estamos convencidos que o Brasil precisa de um órgão de governo específico que promova políticas públicas de combate ao racismo.
É com o propósito de “trocarmos nossas idéias” e convencermos o conjunto do movimento hip hop a se engajar conosco nesta árdua tarefa que estamos nos dirigindo a “manos” e “manas” neste momento. Fica aqui exposta a base sobre a qual construiremos em cada cidade e em cada estado o próximo Fórum Nacional de Hip Hop, em Goiânia, em junho de 2003, aprofundando nossa organização nacional.
E “é nóis na fita!”
Porto Alegre, 27 e 28 de janeiro de 2003
III Fórum Social Mundial
III Acampamento Intercontinental de Juventude
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